quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

LÁ VAI... LÁ VAI... VAI O DIA...

                

Noite sombria,
Cálidas estrelas no céu
Sussurra o vento gélido
Mãos se tocam, acariciam-se
Árvores desfolham
E o dia se vai...

Agitam as ruas sons surdos,
Um gemido ao longe ressoa aos ouvidos dos amantes
Trocam carinhos e abraços apertados
Gritam os homens do lixo
E o dia se vai...

Um cachorro abana o rabo
Quedando-se aos pés dos apaixonados
Beijam-se ardentemente
Late o cão
E o dia se vai...

Silencia a rua,
Agora só restam os sons noturnos
Despedem-se os namorados
Chega o sono e,
Lá vai... Lá vai... vai o dia.

VIVER

A rua estava meio deserta, poucos carros, pouca gente em frente aquela praça enorme, o teatro que sempre estava cheio, hoje ao contrario mal se via uma viva alma na bilheteira, apenas o homem do coco, displicente sentado cochilando. Do lado a banca de revista, parada junto a ela uma menina em sua cadeira e rodas, menina de um semblante dócil, aspecto meio carregado um sofrimento, mas tranquilizador conformada com sua condição deficiente, junto a  sua cadeira uma senhora jovem, cansada pelo tempo lia algumas revistas. A menina de olhinhos negros deveria ter seus 17 anos, parecia ter o olhar perdido. A passos lentos fui me aproximando e fui tomado de uma vontade enorme de conversar com aquela dócil menina.

Fiquei ainda alguns minutos parado como se tomasse fôlego para tomar a iniciativa de um dialogo. Meus olhos encontram o dela, que pareciam tão profundos como verde-azul do mar. Sorri e ela instintivamente retribuiu ao meu gesto.
- Olá, feliz natal menininha...
- Feliz natal moço
Sua voz parecia embargada, meia tremula, mas de uma conotação forte e decisiva.
- Comprando revistas?
- Não, esperando minha mãe
- Podemos conversar um pouco? Não me leve a mal, mas não sei por que você me chamou atenção, e inexplicavelmente sentir uma enorme vontade de lhe falar, saber como  ficou nessa condição.
- Não gosto muito de falar sobre estes assuntos, mas não sei...posso contar ao Sr.
Perto da banca havia um banco de jardim na praça, gentilmente solicitou que a levasse ate la, pois a historia demoraria um pouco e não queria que ficasse em pé por tanto tempo.

Larrissa era seu nome, com os olhos embargados começou a referendar sua historia. Sempre vivera no interior de Goiás, estudava na única escolinha da cidade, desde os 06 anos. Gostava de ler e de compartilhar conhecimentos. Todos os dias pegava a estradinha de barro da sua casa no sopé da colina ate a cidade, sentia felicidade em ir todos os dias a escola aprender, sonhava em um dia ser uma cientista. Aos 09 anos, já tinha concluído o primário e ingressava no ginasial, sempre fora inteligente e vivaz. Descia a estradinha como de costume, quando ao longe avistou um homem barbudo e careca que lentamente se aproximava, logo sentiu certo receio, sentiu seu coração acelerar pois nunca o vira pelas redondezas, mesmo assim continuou firme seu percurso. Não se deu conta qual instante aquele homem ficou a sua frente impedindo sua passagem, olhou bem nos seus olhos e este falou: "menina aonde  você vai?" "porque você estar sozinha nesta estrada?" O temor foi crescendo dentro do seu coração e não teve palavras para responder aquelas perguntas, apenas o encarou. "Responda, vai ficar ai, me olhando?" Tremula e com as mãos já frias, respondeu timidamente: "estou indo a escola, e o Sr. que faz por estas bandas, longe da cidade?"
Depois dessa frase não lembra de mais nada, acordou no hospital com dores por todo o corpo e o olhar assustador daquele homem em suas lembranças. A policia por diversas vezes tentava fazer com que se lembrasse dos detalhes e o que de fato aconteceu, mas sua mente insistia em bloquear. Seus pais e irmãos estavam sempre por perto, vez por outra via os olhos cheio de lágrimas de sua mãe e que inexplicavelmente dias mais tarde saberia da sua triste realidade e do por quê daquelas lágrimas.
Nunca conseguiram localizar o agressor, foi encontrada desacordada na beira do riacho  a kilomentros de distancia de onde lembrava ter falado com aquele sinistro homem, no exame de corpo e delito foi constatado estrupo seguido de vários traumas na região da bacia, onde atingiu a coluna resultando na deficiência, segundo os médicos não voltaria a andar.
Ali na praça observando aqueles doces olhos e ouvindo toda a historia de Larissa tive a certeza que ela jamais deixará de lutar, que suas pernas um dia obedecerão a ordem de sua mente e voltara finalmente a sentir a docilidade da liberdade que é o ir e vir.
A Sra. que estava a uma certa distancia de nós dois se aproximou e com um sorisso, levou a pequena Larrissa em sua cadeira de rodas.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

ABSTINÊNCIA ANTES DO CASAMENTO


Na pesquisa realizada pelo pesquisador Dean Busby, foi observado que pessoas que praticaram abstinência até a noite do casamento deram notas 22% mais altas para a estabilidade do relacionamento. As notas para a satisfação com o relacionamento foram 20% mais altas entre casais que esperaram, assim como as questões sobre qualidade da vida sexual (15% mais altas) e comunicação entre os cônjuges  (12% maiores).
A questão é, relacionar-se ou não sexualmente antes do casamento pode produzir inadequação nas relações? Penso que mesmo com base em pesquisas feitas, o fato de ter ou não uma relação antes do casamento necessariamente não determinara a durabilidade do afeto entre o casal e de sua sexualidade.
Segundo o sociólogo Mark Regnerus, da Universidade do Texas, autor do livro Premarital Sex in America, acredita que sexo cedo demais pode realmente atrapalhar o relacionamento. "Casais que chegam à lua de mel cedo demais - isso é, priorizam o sexo logo no início do relacionamento - frequentemente acabam em relacionamentos mal desenvolvidos em aspectos que tornam as relações estáveis e os cônjuges honestos e confiáveis."
Mas o que se pensar dos casais do tempo de minha avó? Onde o discurso das mulheres em sua grande maioria é de que era inadequadas, infelizes em sua vida sexual? Sofriam agressões morais e físicas quando não satisfaziam as vontades de seus homens e ou quando o desejavam e ensaiavam atitudes que somente as mulheres da luz vermelha (como eram referendadas as prostitutas) executavam nas suas praticas sexuais.
Creio que a liberação sexual feminina veio sim ajudar a dar o casamento uma escolha mais perfeita, mais justa e uma certeza para uma convivência plena, num discurso de dialogo que ate então não era produzido nos lençóis das camas.
A liberação sexual que me refiro, é aquela consciente, sem promiscuidade, sem exageros e nem comparativos masculinos nos padrões estabelecidos, apenas a mulher tem o direito de conhecer o homem a quem um dia devera dedicar seu afeto e muitas vezes sua vida, numa sincronia sexual adequada. Se este ou aquele não é adequado, ela deve prosseguir na busca de sua satisfação, sem contudo se violentar por isto.
Se escolher a abistencia que seja uma escolha, uma opção e não uma imposição como foi vista e pregada no passado. 

domingo, 26 de dezembro de 2010

FAMILIA DRAGON

CAPITULO III


Com a morte da mãe, delegamos em comum acordo que Kelvink e Angel estaria a frente das decisões e resoluções sobre os problemas que viessemos a enfrentar, ele e ela tendo a palavra final. Afinal eles  sempre foram pessoas sensatas e fortes para liderar a familia. Após nossa escolha, foi feito o inventario e partilha dos bens. Concordamos que ficaria na mão a administração de Kelvink e qualquer coisa que precisasse recorreriamos a ele. Com a morte de nosso avós por parte de mãe, ela como filha única receberia todo o legado, assim herdamos um lindo Castelo além da cidade Espada, já nas imediações da cidade Dragão. Junto tambem tem duas vilas, fundadas por meu avô, onde Kelvink deixou os moradores residindo lá, e em troca eles fornecem todo os alimentos consumido pela casa. Kelvink, investiu o pouco dinheiro que realmente ficou, apesar de aparentarmos ser ricos a situação não é bem como parece, mas tudo que temos dar para viver com dignidade. 
Como amigo e patrono da familia, Kelvink não nos deixa faltar nada, amoroso, gentil e forte estar sempre disposto a lutar pela honra da familia. Com todos os problemas enfrentados desde q nasceu, fez do Tigrão um lutador, mas que as vezes se esquece de viver o prazer da vida, embora seja tachado por muitos de mulherengo, por ser gentil e afetuoso com todas que conhece, entretanto ele nunca se envolveu de fato com nenhuma. As vezes flagavamos olhando a esmo o horizonte, e nunca sabíamos realmente o que se passa no coração do nosso protetor.
Após dois dias preso em casa, numa depressão infinda por problemas pessoais, sai para fora do Castelo, para caçar e viver aventuras..do Mundo Perfeito descobrir duas novidades, uma que serei brevemente pai e a outra ao chegar no Castelo, as luzes ainda acesas e murmurios, mostravam que algo tinha acontecido. Encontrei ao lado da lareira Kelvink com seu enorme cachimbo, Angel..jogando dardos e Leonelli deitada sobre o colo do irmão mais velho. Achei estranho, tal reunião, embora sejamos os mais velhos, tinha certeza que pelo horario algo havia acontecido. Saudei a todos, fui ate a adega, e bebi um bom gole de vinho, e perguntei o que estava acontecendo. Angel, parou com os dardos e explicou que Kelvink quando arrumava o quarto de nossa mãe, encontrou algo que o deixou extasiado. Meu coração sem querer acelerou, inexplicavaelmente, e em momentos lembrei da sua doçura. 
Kelvink então falou: " irmão meu pai é mais canalha do que pensei", fiquei atonito..Angel , explicou, nosso irmão tem um irmão, alem da Zodiack, (filha da Mabú), um filho da nossa propria mãe com o pai dele..com a partida de nossa mãe ele a obrigou deixar o pequeno Jack, senão ela não teria nem a chance de ficar com o Kelvink...magoada, ressentida e sem nenhum poder ela cedeu, e nunca, nunca mais em vida, pode ver o proprio filho.
Com toda essa novidade, Kelvink depois de muita insistência de Leoneli e Angel resolveu se empenhar em procurar a meia irmã na cidade das Feras, já que ela pode ser a única que deve saber sobre a existência de JackSully. O cabeça dura reconheceu que estava errado em culpar a irmã pelo erro do pai, pois na verdade ele estaria se punido, evitando de conhece-la. Sabíamos que tudo era um disfarce, no fundo Kelvink tinha muita curiosidade em conhecer a meia irmã. 
Particularmente eu e Nefistoan iniciamos as investigações, e como Kelvink viaja muito, ele nos comentou sobre um mercador, que possivelmente teria alguma informação sobre o paradeiro de Zodiack e ouvir a historia que tinha para nos contar. Ele mora nas imediações do deserto Ecos, vendendo sua pratarias. Ao inquerir sobre JackSully e Zodiack ele nos contou que depois da estada de Kelvink conseguiu localizar a irmã dele, e em seguida nos deu o endereço. Ficamos extasiados e emocionados com aquela noticia, decidimos então que Nefistoan e Murriel viajariam a terras longínquas do território das Feras para encontra-la, já que são alados e voando encontrariam mais rápido o lugar, combinamos também não falar nada a Kelvink até tudo ser resolvido.
Nefistoan saiu cedo naquele dia, iria em busca de noticias de Zodiack e JackSully nas terras distantes da cidade das Feras. Passou 2 dias investigando quase sem êxito o endereço dado pelo mercador, quando encontrou uma velha senhora que conversava na taverna a respeito dos dissabores da pequena Zodiack, atento o alado ficou prestando atenção aquele historia e não teve duvida, tratava-se da mesma pessoa. Aproximou-se da velha e inquiriu sobre Zodiack, ela gentilmente contou que a feiticeira vivia no centro de Fera, perto da joalheria. Nefistoan agradeceu e foi no endereço indicado. Ao chegar sentiu certa tensão e ansiedade, afinal aquela era irmã do seu amado Tigrão. Bateu á porta...coração apertou e finalmente uma senhora apareceu, era quem cuidava de Zodiack, Molleia que após a morte da mãe da feiticeira cuidou com carinho da mesma. Nefistoan explicou tudo a senhora, que sorriu e informou que a anos Zodiack procurava  pelo irmão sem exito. Informou que JackSully e ela não se cansavam nesta jornada. Pediu então que retonasse ao fim da tarde, onde os dois estariam em casa. Nefistoan despediu-se com o coração leve e a certeza do dever cumprido.


quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O QUE DIZ UMA FRASE?

Este espaço será reservado para analises e comentários sobre frases, definições e conclusões que nos levam a um certo discernimento. Não é irônico pensar que todas as abstrações que determinados autores e livros enfatizam se posto em pratica nos faz sentir que são verdades existenciais e nos levam a uma reflexão sobre a maneira com que vivemos neste plano e como interagimos com nossa realidade?
"O homem está colado entre os deuses e as feras  esta afirmativa de Plotino, nos coloca numa dimensão intermediária de uma realidade ainda não absorvida pelo homem, e sua real referencia de sua natureza.
Numa outra perspectiva Jô nos afirma nos ver. 30-29: Sou irmão dos dragões e companheiro das corujas...”, o que ele quis dizer com isso, na verdade? Fazendo uma analogia poderíamos concluir que Plotino nos dar informação sobre um homem dependente de deuses e ameaçado pela feras, não conseguindo despertar e assimilar o próprio medo de si. Mas adiante ele afirma: “Tenho medo dos deuses, pois não sou um deles, tenho medo das feras pois elas me ferem”, é uma visão de um homem tenebroso, e os deuses surgem como soluções para os seus medos e erros.
Quanto a Jô ele prefere se igualar ao inferior, porque desconhece em sua essência e este lhe parecem inferiores.
No livro Origem da espécies de Charles Darwin, uma das conclusões nos fica evidente, é que nós homens descendemos de alguma forma de espécies inferiores, e isto é deveras uma conclusão um tanto desagradável para certas pessoas, mas dificilmente alguém duvidaria de que descendemos de bárbaros. O espanto que particularmente senti ao me deparar com essa teoria pela primeira vez, me fez refutar a concepção bíblica, então como explicar tudo isso? Tenho uma teoria, que ficaria entre as duas concepções que talvez pudesse explicar e nos confortar dessa angustia existencial, tão própria do ser humano. No inicio nada existia a não ser DEUS, e Ele era o verbo, Ele expressou uma vontade em criar, então surgiu o universo, os planetas e a vida. Queria ele proporcionar isso a alguma coisa que fizesse parte dele, então criou o homem, mas não um homem apenas,  sim vários com sua companheira, onde pudesse vivenciar e não se sentir só, pôs esse homem, numa espécie de jardim, onde tudo era para ele, tudo obedecia a este homem, entretanto por pura insatisfação, implantada na sua natureza, este quis saber mais, mas Deus sabia que ele não estava preparado, mas continuou insistindo e Deus, então convidou a ver como era de fato a existência, afinal este homem não queria sua proteção. Assim todos que estavam no paraíso, foram expulsos para poder conhecer a vida em outros estágios. Deus porém, desnudou o homem de tudo, e ele foi forçado a aprender tudo, aprimorar sua inteligência. É porisso que vivemos no primitivismo das cavernas e outras situações nesses milhares de anos existenciais. Não sei se me fiz compreender, mas os dogmas surgidos depois, foi pura audácia do homem para sobrejulgar o outro, seu semelhante. Aquele que vê um selvagem em sua terra nativa, saberá que em algum momento de nossa vida, um de nossos ancestrais, foi rude, incoerente, canibal, e que com a evolução nos foi dado do privilegio de melhorar nosso ser. Acredito que daqui a mil anos a humanidade  estará diferente, terá aprendido mais para sobreviver melhor esta é uma esperança de um destino ainda mais elevado num futuro distante e de seu final, mas bem isso é outra história.                                                                                                
A essência do homem relatado por Darwin é de um homem que apesar de ter evoluído ainda continua na barbarice, cheio de crimes, tentando destruir o que lhe mais caro que é o meio ambiente, pelo simples fato, creio eu, de ser muito egoísta, não pensar nas gerações futuras. Fico a imaginar até que ponto esse homem conseguira sobreviver em seu próprio ambiente. Se formos perceber a beleza de nosso planeta Terra, como se fosse um celeiro do amor, onde todas as criaturas se harmonizam, se reproduzindo infinitamente, e que isto tudo poderá ser perdido, pela simples ignorância humana, me dar calafrios.
Hoje, em pleno final do século XX, o homem moderno, lê e pensa. Em 1754, Jean-Jacques Rousseau, em seu livro a Dissertação sobre a origem e a base da desigualdade da espécie humana, comentou : “ Importante sobre o estudo natural do homem, é considerá-lo a partir de sua origem.. Neste terreno, eu não poderia senão formar conjecturas vagas e quase imaginárias. A anatomia comparada ainda fez poucas descobertas e as observações dos naturalistas são por demais incertas para qualquer raciocínio lógico e sólido”.       
Hoje com o surgimento da auto-analise e as terapias de grupo consolida o homem  a ser o que ele é, assumir sua matéria corpórea, seus pensamentos por mais esdrúxulos que sejam, para finalmente encontrar-se e transformar o que  é o maior Dom: A VIDA, numa forma acessível, certo de que o resultado de tudo isso é o desenvolvimento interior sucessivo.
Willian Shakespeare afirma: “O que foi que visto no sombrio passado e no abismo do tempo? “(A tempestade). O que sempre temos visto é  a maneira mórbida de homens degladiar-se, fugindo  e se transformando em orvalhos, nada mais que lágrimas e lágrimas. O mundo é velho, o homem é novo, novo em suas ações , novo em seu modo de pensar e agir. Hoje, pouco se conseguiu estudar pouca coisa  a seu respeito e de boa parte do universo. O acesso a nós mesmo é um ponto que merece atenção. Às vezes ouvimos alguém afirmar que detesta alguém, que sente inveja do semelhante, homens que não gostam do que fazem, não gostam do planeta pois o desrespeitam, do sol, e que vivem em constante mau-humor e reclamação. Analiso o que faz este homem aqui? E imagino que algo precisa ser feito, que de certa maneira é preciso domesticá-lo dado o grau de sua alienação, despertando-se enfim, para si próprio. São paradoxos, que devemos solucionar, quando a nossa frente surge.
Estudamos o cérebro, nosso maior medo é saber o que ele contém, apesar de nossa insistente curiosidade, como é sua estrutura, o grande desafio que ele nos mostra. Até hoje, o que nos deprime são as insignificantes indagações. Aristóteles, contribui assim: “De todos os animais, o homem é aquele que possui o maior cérebro em relação ao seu tamanho.” Será que o tamanho importará ?
Será que o Éden será uma metáfora dentro da evolução do homem ou será que ele existiu? Mais que milenar a estória de sua existência. Assim alguns versos de Jonh Milton (Paraíso Perdido) nos dar uma idéia poética:  Então não estarias pouco inclinado...A deixar este Paraíso, mas possuirias...Um paraíso dentro de ti, mais feliz ainda...De mãos dadas, com passos errantes e lentos.. Através do éden tomaram seu rumo solitário...”                                                                                        
Abre-se dentro de mim  uma reflexão maior sobre a existência do paraíso dentro de si, porém ele parece tão pequeno quando não entendido... O problema consiste em percebê-lo, será que encontra-se ao meu lado, perdê-lo parece impossível, mas o importante mesmo é procurá-lo.  Como posso pensar em ser feliz, se a minha volta existem milhares de pessoas infelizes e tristes, passando pela vida de forma despercebida, sem nuca ter especulado sobre si mesma, e até mesmo terem refletido sobre sua existência, sobre seu paraíso interior. Somos importantes, e precisamos nos compreender de fato.
Sigmund Freud contribui nesse sentido: “A voz do intelecto é suave, mas não descansa até ter ganho um ouvinte. Em última analise, após inumeráveis derrotas, ela vence. Este é um dos poucos pontos em relação aos quais poderemos ser otimistas no tocante ao futuro da humanidade.”
 Faço um comentário através de um verso reflexivo:
 “Tenho ouvido para ouvir a voz dos Deuses
  Pouca é minha sabedoria
  Diante de tamanha beleza!!
  Tenho visões para ver
  E seguir meu destino...
  Em busca do meu paraíso interior.”
 “O espírito de um homem é capaz de tudo, porque tudo está nele, todo o passado e todo o futuro”(Joseph Conrad)
As horas silenciosas se aproximam... (Willian Shakespeare). Todas essas questões de extremo conhecimento humano, talvez não passem de simples conjecturas ou afirmações de problemas existenciais  que o homem vivência em relação a sua natureza e ao cosmo. De onde viemos e para onde vamos. Como se processa esse ciclo, ou tudo é um ciclo como tudo indica? Fica a idéia para você leitor refletir.


NO CALOR DA DOR, A EMOÇÃO DO AMOR

Janeiro de 1979, uma viagem inesperada interrompeu os negócios de Paulo. Até então, vivia em sua pacata cidade, sem muita ambição e problemas sérios. O avião no aeroporto estava de partida numa das poltronas, Paulo Novaz porte athetico, lia a carta de sua noiva Fernanda. Aquele dia amanhecera nublado e com fortes ventos. Seus olhos percorriam as páginas daquele papel como se buscasse algo além das palavras, enquanto isso o avião movimentava-se na pista, alcançando os céus rapidamente. As palavras daquele pequeno bilhete expressavam saudades e dizia: “Estou ansiosa esperando noticias suas. Aqui nada de novo, e a rotina às vezes me deixa desanimada, a não ser a alegria que compartilhei com Glória, César e Lima de terem passado no vestibular, foi muito legal. Querido os dias sem você são duros, e não vejo a hora deste curso chegar ao fim para novamente está em seus braços. Você é uma pessoa maravilhosa que amo muito, e não imagina como essa distância me faz mal, mas logo, logo o curso terminará e seremos muitos felizes para nos amarmos”. Beijos – Nanda.
Entretanto aquelas palavras pareciam tão artificiais, sempre que recebia carta dela, era simples, curtas demais e até mesmo fúteis. Estava decidido de lhe fazer uma surpresa, mas estava preparado para qualquer tipo de problema que pudesse vir a acontecer, aquele era o motivo de sua viagem.
A aeromoça ofereceu-lhe um drink, o qual aceitou naturalmente. Da pequena janela do avião observava as nuvens e a imensidão do céu. Podia ver a tempestade que caía torrencialmente, e vez por outra balançava o avião, causando um certo medo nas pessoas.

Paulo Novaz tinha 32 anos, homem bem sucedido na vida, herdara do pai uma pequena rede de supermercados em sua cidade, que era uma pessoa que todos amavam, sempre procurava ajudar os mais necessitados, após sua morte por causa de problemas cardíacos, a cidade não foi mais a mesma, e assim alguns dos problemas da cidade acabavam tendo que ser resolvidos por Paulo, que pacientemente continuava o trabalho do pai. Na época que seu pai falecera, era apenas um jovem de 20 anos, ainda imaturo, desconhecia totalmente o teor dos negócios do pai, assim teve de inicio certa dificuldade, mas logo facilmente conseguiu direcionar adequadamente os negócios. Conhecera Fernanda numa dessas festinhas na casa de um dos seus amigos, assim que a viu sentiu irresistivelmente atraído, com sua maneira dócil de falar e de ser. Seus cabelos caídos aos ombros, negros, olhos esverdeados, parecendo uma deusa grega.
A forte tempestade sacudia o avião com maior intensidade, e algumas pessoas, principalmente umas senhoras com o terço na mão rezavam. Ouviam-se trovoadas assustadoras.
Naquele momento uma moça japonesa o encarava insinuadamente, fazendo com que esboçasse um sorriso, sendo consequentemente correspondido.                                                                                              
A torrente de chuva lá fora aumentava e o panico era geral. Paulo fechou os olhos tentando dormir, idealizando sua chegada em Belo Horizonte. Do seu lado a aeromoça ajudava a velhinha a amarrar seu cinto de segurança. Segundos mais tarde o avião entra em pane, caindo entre as matas do estado de Goiás, algumas explosões, gritos de morte, a chuva torrencial ajudou a conter o fogo, e um silêncio se fez.
Ao despertar do estado de inconsciência Paulo Novaz, ouve um canto de pássaros e atordoado abre os olhos. Meio sonolento percebe o que aconteceu bem ao seu lado a moça japonesa estava imóvel, mas ainda respirava. Levantou-se lentamente, sentindo o chão fugir de seus pés, a cabeça girar, caindo novamente.O relacionamento de Iara com Paulo, despertara nele um sentimento estranho. Era uma jornalista recém-formada, trabalhava para um jornal em Minas. Conversavam muito, principalmente quando iam juntos pegar água, ela havia lhe dito que tinha um namorado que a amava, mas que ela apenas sentia uma ternura e admiração profunda.  Com o convivo dia após dia, ela sabia que algo forte estava sentido por Paulo, aquele rapaz gentil, que pacientemente cuidava de todos, às vezes se pegava pensando nele, e sentia um enorme medo que algo lhe acontecesse quando saía em caçada com o comandante.
Na cidade o noticiário informa em rede nacional o desaparecimento do vôo 205 da VARIG, e começam as buscas do Boeing. Na casa de Paulo Novaz, seus familiares ficam apreensivos, sua mãe inconsolável, ainda tinha esperança que seu filho estivesse vivo. A irmã de Paulo, Débora, liga imediatamente para Fernanda, avisando do que havia acontecido com o noivo.
Novamente Paulo desperta do transe em que se encontrava, e o cheiro forte de carne queimada exalava no ar. Levanta-se e ainda encontra força para ir até o local em que se encontrava a moça japonesa, ainda estava respirando, de súbito fica feliz. Faz um esforço enorme para carregar aquele corpo um tanto frágil, colocando perto de uma árvore.  Vê um corpo de um homem aparentando 50 anos, ainda respirava, retira alguns destroços do avião que estavam sobre ele, e este abre os olhos, com certa dificuldade e com o auxilio de Paulo caminha até a árvore onde se encontrava a moça japonesa. Alguns passageiros tinham sobrevivido àquele terrível acidente, eram apenas 15 sobreviventes, o restante, esses estavam irreconhecíveis, carbonizados. Agora o que fazer estavam sem nenhuma comunicação, nenhum radio funcionava, sem água e sem comida. Diante da situação Paulo percebeu alguns animais e pássaros, logo imaginou que deveria ter água por perto. Comunicou aos outros passageiros, que iria procurar água, pois era o único que estava em boas condições físicas, seus ferimentos eram leves. Ouviu então a voz do comandante que dizia ter forças para acompanhá-lo. Paulo, mas este explicou  o quanto ele era necessário para os outros sobreviventes que permanecesse esperando por ele, depois dele era o mais saudável.
Percorreu uma área enorme, e não conseguia uma gota d’água, ia desisti, quando um animal chamou sua atenção. Parecia um castor, ou um desses roedores  que vivem se enterrados na terra. Como que por impulso de sobrevivência, tentou segurar o bichinho, imaginava que poderia dar uma boa refeição. Entretanto, mais rápido e esperto o bichinho começou a correr, e Paulo atrás, desesperado. Seu instinto de sobrevivência lhe impulsionava a segurar aquele pequeno roedor, com a mão enfiada em sua toca, conseguiu capturar o bichinho. Logo adiante viu um pequeno córrego o qual  sentiu uma imensa felicidade. Imediatamente, encheu a vasilha para levar ao local do acidente, agora sabia que poderiam sobreviver.

Os dias foram passando paulatinamente, e não aparecia o socorro, enquanto isso Paulo e comandante, já restabelecido, caçavam os pequenos animais, faziam fogueiras, se revezavam à noite por causas dos animais, eram 07 sobreviventes.Haviam enterrados todos os corpos, construído algumas malocas com os destroços. O que mais fazia feliz Paulo, era o canto dos pássaros e a presença de Iara, a japonezinha que lhe sorrira a 05 dias atrás quando o avião caiu naquelas colinas. Alguns passageiros ainda precisavam de socorro adequado, uns estavam mutilados e ainda agonizavam de dor. Com um carinho especial Paulo cuidava daquelas pessoas, procurando confortá-las.
                       
Nas cidades por todo Brasil surgiam os mais variados boatos sobre o avião desaparecido, nesses 07 dias de buscas não davam em nada, alguns jornais noticiavam as mais absurdas versões, um desses sensasionalistas dizia que o avião havia sido engolido por um enorme disco voador, outros diziam que haviam sido raptados por terroristas libaneses, e outros ainda anunciavam que com a queda do avião nenhum sobrevivente havia. Os jornais competentes publicavam que tanto o exercito e aeronáutica estavam em buscas constantes, mas que nenhum dado concreto da localização do avião e seus passageiros.
Paulo continuava sua rotina dia após dia, e mais uma morte aconteceu no acampamento, agora eram apenas 06, que brigavam heroicamente minuto a minuto pela vida. Apesar de todas as dificuldades vivenciadas, para Paulo aqueles dias lhe davam uma enorme sensação de alegria, e ele sabia que era por causa de Iara, já não pensava na noiva, e se esta estava sendo infiel ou não, agora não mais interessava. Naquela madrugada, o sono demorava a chegar, dormia perto de Iara, seus corpos juntos, tão próximos, que sem querer sentiram que estavam abraçados, como numa mágica e sensual energia, e o inevitável aconteceu, ambos sentiram a maior felicidade.
Aquele dia amanhecera chovendo. Paulo sorriu para o dia e o canto dos pássaros lhe trazia uma sensação de paz e quietude enorme, respirou fundo e agradeceu mais uma vez a Deus por estar vivo e feliz. Repentinamente, ouviu uma zoada que parecia de um helicóptero, correu para chamar o comandante, e aos gritos procuravam chamar atenção, como por instinto pôs mais madeira na fogueira, queimando até sua roupa, era a única esperança que tinha desde o dia que o avião caíra. O piloto do helicóptero se comunica com a base, havia descoberto os destroços, e finalmente acabara aquela busca, depois de l3 dias.
O socorro não demorou, logo que chegaram os reforços. Os seis sobreviventes, uns ainda gravemente machucados, respiravam aliviados, finalmente poderiam ir para casa, Deus tivera misericórdia com todos, estavam vivos e livre daquele sofrimento.
Paulo e Iara prometeram novamente se encontrar, mesmo porque ambos teriam que resolver suas vidas, para livremente amarem-se. Sabiam que agora finalmente suas vidas iriam ter um novo começo, no amor sincero e construido dia após dia pelo sofrimento, apesar de tudo estavam felizes.
              

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

PREÇO A PAGAR?

Que preço deve-se pagar pelo amor?
Preço algum suponho,
O amor é energia, vem da alma, do espírito...
Portanto, sem preço
Não se compra, não se vende
Apenas se sente...

Quem de nós nunca manifestou a esperança de ter um amor?
Todos suponho
Ser paciente e esperá-lo
Com a porta entreaberta para que possa entrar
A qualquer momento
Em qualquer lugar...

Quem não se sentiu apossado pelo amor?
Cada um de nós suponho.
Sentindo adentra-se, sem nem pedir licença...
Possuindo o que deve ser possuído
A pele, o cheiro, o beijo...
Num leve pulsar de dedos...

Creio que não devemos pagar para se ter amor
Pois ele é essência da vida
Pertence a todos e a um
É o alimento da alma,
Da vida que sobrevive a cada dia
Da humanidade ensandecida!

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

SOLIDÃO

O telefone disparou o alarme incessantemente, ainda estava no PC, agora virara rotina, a insônia permanente e inexplicável perseguia-me. Vez por outra olhava pela janela, as estrelas límpidas e o silencio denunciava que precisava repousar, mas o que fazer nessas situações em que o corpo teima em ficar acordado? Médicos psiquiatras amigos sempre falaram do stress e medicavam velhos calmantes, entretanto eu nunca comprei um sequer. Aquele ruído do despertador no celular me lembrava que era hora de esticar o corpo na cama, deixar as torrentes de pensamentos fluíerem, fazer planos para o amanha e consequentemente aos pouquinhos ir relaxando ate o sono bater as portas. Assim o fiz, desliguei o PC, tomei uma boa ducha para que a sensação relaxante tomasse conta de mim e paulatinamente como magica ele ia se aquietando, ate entrar em transe e êxtase profundo, vencido pelo cansaço e revitalizado para o amanhã, e assim seria um novo dia.
Acordei assustada já com o sol aquecendo minha pele e com o canto matinal do bem-ti-vi, num som melódico de paz curativa. Olhei em volta, não havia ninguém, o lençol dobrado levemente molhado e amassado denunciava que havia feito muito calor aquela noite, mas no profundo do meu sono não pude perceber. Uma tristeza invadiu minha natureza e me dei conta o quanto por muito tempo tenho estado só, sem companhia, sem compartilhar minhas tristezas, minhas adversidades e alegrias. Ponderei se isto era bom ou era ruim, afinal ser só é algo distinto de está só.
Agora era hora de espreguiçar, fazer caretas para despertar e aos poucos por os pés dentro dos chinelos e ir ate o banheiro e na sequência preparar um bom café da manhã. Iniciava o processo do dia. Tomei o ônibus do horário, ainda era a cedo a cidade mal despertara e o transito fluía adequadamente, podia através da janela ver o mar que circundava toda orla, convidativo, prazeroso de se visualizar.
Num impulso, tomei uma decisão, pedi sinal ao motorista que lentamente parou e desci. O mar a minha frente contagiava-me e irresistivelmente fui senti-lo, caminhando de pés descalços sobre a areia.
Quantas vezes é necessário ter uma atitude como esta? Parece irresponsável, mas certamente dar um prazer enorme, ficar ao léu sem responsabilidade com ninguém a não ser consigo próprio. Aquela caminhada ao lado do mar me daria uma sensação de felicidade, de certeza que minha solidão nunca me foi prejudicial, alias ela me é salutar, me levava ao nirvana, ao auto conhecimento, ao contato com o que desconhecido, me elevando. ´
Longe percebo algumas gaivotas a voar, mergulhando para buscar seu alimento, dano ao céu azul um colorido dignificante e encantador. Algumas crianças brincam de bola, fazendo arruaça, o que me faz sorrir.
A cidade agora já não é mais a mesma, acordou para seu dia..o transito e o caos não me incomodam, pois alheia permaneço e cercada pela doce sintonia do mar, encontro-me só, tendo consciência que minha solidão é apenas um disfarce que minha verdadeira energia precisa para ser feliz!

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

NA NOITE ESCURA

            
Estrelas brilham no escuro do céu
Raízes prendem imóvel meu ser
Abafadas ficam minhas palavras
Como se minha garganta apertasse
Num gesto indefeso,
Penso em ti
Ainda amante...
Luzes opacas saem dos postes
Escurecendo ainda mais a cidade
Quase não percebo seus raios no vazio da escuridão
Lágrimas brotam em meus olhos
E rolam pela minha face
Sinto tua ausência
No vazio do meu coração
Ainda amante...
Lá fora a noite penetra na cidade
Carros e pessoas transitam
Porém, sozinha divago
E em sonhos te pertenço
Pois o que resta a mim
É a tua presença eloqüente em sonhos
Ainda amante...

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

SENSATEZ

Meio dia, acabara de sair do trabalho e corria feito uma desvairada para tomar o ônibus que tinha horário e me levaria ao outro serviço. Uma loucura essa vida estressada para a sobrevivência. Confesso que muitas vezes sentia certo cansaço com o vai e vem do cotidiano, por outro lado, gostava de ter essa atividade de realizar-me profissionalmente, valia a pena, não pela grana em si, mas pelo oficio da profissão.
Conheci um certo paciente naquele dia, era negro, alto, aspecto limpo mas de uma introspecção diferenciada que me chamou atenção. Na minha oficina havia conversado com todos sobre a sensatez e como ela atuava no seu cotidiano, solicitei que verbalizassem o que imaginavam sobre isso. Para quem não sabe, estou me referindo a pessoas portadoras de doenças mentais a qual debruço-me em estudar e lidar no meu cotidiano profissional. Foi então que alguém sugeriu que desenhassem sentimentos que assolavam a mente naquele breve instante acerca do que falávamos.
Estava ansiosa para ver o desenho dele, aquele sujeito havia me chamado atenção pela maneira como comportava-se e que vez por outra falava de seus sentimentos e medos. Ficava imaginado o que levava as pessoas a perderem sua razão, se este processo não estar atrelado a perda da sensatez na sua vida estrutural, ou mesmo a não aceitação racional da sua vida, das escolhas que fez.
O desenho do paciente X em questão expressava a natureza primitiva dele próprio, dos seus medos e a forma agressiva que encara sua vida cotidiana, o seu instinto aflorado, numa perfeição para um desenho feito a mão livre em 5 a 10 min. A expressão, os traços mostravam a qualidade de um artista preso pela sua doença, um artista com medo de si. Ele foi o único que apresentou dois desenhos, no segundo percebia-se claramente a expansão da mente, o imaginário, o livre, dando asa a fantasia construída em algo que não existe, mas que pulsa em seus sonhos.
Na mesa redonda os outros pacientes admiravam o desenho dele e em seus delírios descreviam o que imaginavam, a cada palavra eu fascinada ouvia atentamente, procurando identificar formas de traze-los ao real, ao palpável das suas vidas, valorizando-os.
Fim de tarde, Sr. X levantou-se agradeceu e revelou que sempre desenhara o que sentia e essa compulsão era seu refúgio quando hora por outra ouvia aquelas vozes que o perturbavam levando-o muitas vezes a agressão do próprio corpo. Fiquei observando ir embora...sem poder dizer mais nenhuma palavra.

Desenho 1 do paciente X

Desenho 2 do paciente X

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

VOCE É MINHA VIDA


Fevereiro de 1979, na rua transitava uma mulher de olhos negros, cabelos longos e lisos, estatura mediana com o ar de quem procura algo. Possuía um jeito especial, que resolvi segui-la e observá-la. Num súbito momento, parou e fez algumas perguntas para um velho dono de uma banca de revistas. Continuou a andar a passos miúdos. Após virar a esquina, entrou em uma clínica, onde possuía várias especialidades médicas, o que era uma concidência, era a mesma clínica onde havia feito recentemente um tratamento do coração. Como que num impulso, entrei também para saber o que iria acontecer, e também quem sabe ter a oportunidade de conhecê-la melhor.
- Sra. por favor onde fica o laboratório?
- Na segunda sala a direita.
-Obrigado.                                                                                                          
Seguiu as instruções da recepcionista, e foi parar num corredor enorme, onde encontrou a 2º porta referida pela moça da recepção. Abriu delicadamente e entrou. Instintivamente, entrei também na sala e sentei-me displicentemente em uma cadeira, pegando uma revista para disfarçar. A moça perguntou a atendente de plantão como deveria proceder para deixar o exame de urina. Imediatamente esta informou que deveria preencher um formulário, assinasse a guia do convênio e deixasse sobre o balcão a urina. Fiquei esperando, para ver o que aconteceria em seguida.
-Que dia venho buscar o resultado?
-Depois de amanhã, pela tarde.
Agradeceu, saindo do ambiente em que se encontrava. No seu rosto uma certa palidez e constrangimento, puderam ser observados por mim. Algumas suposições despertaram em minha mente e fiquei a imaginar daquele episódio vivido, também pude constatar de que não adiantou nada, ter seguido aquela moça de cabelos longos e lisos, com olhos negros. Mesmo assim, uma força estranha me empurrou até a atendente para saber o nome daquela linda mulher.
- Por favor, você poderia me informar o nome daquela moça que acabou de sair daqui?
- Infelizmente não posso lhe dar essa informação.
- Por favor, não lhe custa nada. Tenha certeza, não vou criar problemas por causa disso. É importante, nada vai acontecer de mau, lhe prometo.
- Já que o Sr. insiste, é Laura.
- Obrigada.
Sai daquele lugar com o firme propósito de rever aquela moça novamente Laura. Sabia o horário e o dia que ela voltaria à clinica, viria mais cedo e esperaria por ela o dia todo se preciso fosse. Não sei porque senti esse grande impulso de segui-la de saber seu nome, de revê-la e tentar quem sabe uma aproximação. Por outro lado, foi muito divertido, participar da vida do outro sem que ele mesmo saiba. Só sei, que ela me despertou um desejo muito forte, uma atração certamente, mas que só depois de amanhã eu saberia, mais sobre essa mulher misteriosa.

Desci a ladeira da minha casa a passos largos, não sei porque estava louco para tomar um banho, mudar de roupa, comer um pouco, quem sabe jogar sinuca no bar da esquina com os amigos.
-Piter que horas são?
-Dezenove e trinta...
-Ah! cara o Luciano ligou, disse que vai para o House as nove horas, se você quiser encontrar com ele, é só ir no bar.
-Obrigado Junior, talvez eu vá, mas ao mesmo tempo nem sei, estou me sentindo estranho.
-O que aconteceu mano, que bicho te mordeu. Você não é de ficar em casa à noite?
-Será que não podemos mudar de hábitos um dia sequer?
-Tá certo, você é que sabe cara...
Pensei comigo, preciso mudar de vida, preciso encontrar um trabalho, uma gata que possa amar de verdade, estou cansado de transar inconseqüentemente, não tenho sido feliz, essa que é a verdade. Preciso pagar minhas contas, parar de depender do pai, de pedir seu carro para sair com as garotas, fazer gênero para todas elas e para meus amigos também.
-Piter você lembra do João? Aquele cara que sempre arrumava garotas que tiravam a roupa  fácil, fácil.
-Lembro, o que têm ele?
-Ele esteve aqui e disse, que arruma duas gatas para curtimos à noite. E que vai ser baratinho dessa vez.
-Tô fora, Junior. Nem quero amizade com esse cara, a última que ele aprontou não dar para engoli, minha vontade é esmagá-lo.
-Vá com calma, mulher é sempre bom e nunca é demais. E você parece tão diferente, parece um bobo sentimental, qual é cara, conte aqui para seu irmão?
-Não é nada...
Se ele soubesse, que não paro de pensar em uma desconhecida chamada Laura, que depois de amanhã estarei sentado na  poltrona de uma clinica, esperando- a. Sei que ela é diferente das tantas outras que tenho conhecido, que vivem dizendo amar, e por traz vivem a trair, sem a menor culpa ou constrangimento. Não as culpo, fazemos o mesmo com elas. A verdade é que quando isso acontece, tenho certeza, é porque não existe o sentimento maior, só sexo e prazer da companhia.
Acendeu um cigarro, colocou um cd no som, encostou-se na poltrona e ficou a pensar em Laura. Todos os momentos, desde que a viu, seus gestos, sua forma de andar e falar com a recepcionista. Como sem querer o sono foi chegando, que nem ele mesmo percebeu. Acabou sonhando com aquela garota.
Uma sensação de medo o tomou de súbito no sonho, era como se ela precisasse dele, ele corria ao seu encontro, mas nunca conseguia chegar. Acordou assustado, respirando fundo, era apenas um sonho.
Às seis horas Piter, já estava de pé, preparando seu café, nem esperou sua mãe, parecia que tinha uma pressa infinita e uma vontade de viver uma vida diferente, de ser alguém. Acordara com aquele propósito, mudar decididamente a maneira como vivia. Foi ao jornaleiro, comprou o jornal, e procurou a página dos classificados, hoje arrumaria algum emprego. Vestiu sua velha calça jeans desbotada, aquela sua camisa quadriculada preferida pediu algum dinheiro ao pai e saiu.
Aquele dia, andou feito um louco à procura de trabalho. No fim do dia estava exausto e sem nenhuma esperança concreta, muitas promessas. A principio pensou que nunca iria conseguir, mas afinal de contas o mundo desde que é mundo não foi feito em um dia, e amanhã era um outro dia, com certeza.  
A noite saiu para o barzinho, no House, os amigos se encontravam jogando sinuca como sempre  e era apostado, algumas garotas, muita fumaça e bebida. De vez em quando acontecia uma briga, mas nada grave, era o alcool que subia à cabeça, quando não era por causa do jogo, era por causa das gatas. Voltou para casa meio tonto, nem tinha bebido muito. Só queria dormir, pois amanhã iria rever Laura. Acordou com muita dor de cabeça, tomou uma aspirina, depois entrou no banheiro deixando a água quente deslizar sobre seu corpo. Aquele ritual mágico despertou o prazer, e a imagem de Laura chegou a sua mente, naquele momento seu pênis enrijeceu  e com fúria masturbou-se chegando ao orgasmo. Era a primeira vez que fazia aquilo pensando nela, e mais desejo sentiu e novamente gozou.
No horário previsto, já estava em frente à clinica. Sentou-se na mesma poltrona  e ficou ali a esperar. A recepcionista trocava palavras com um médico, e sem constrangimentos me dirigi a ela.
-Senhorita, poderia me dizer se Laura já esteve aqui?
-O Sr. novamente?!
-Sim, poderia responder a minha pergunta?
-Ainda não Sr. aquela jovem daquele dia, ainda não veio buscar o exame.
-Obrigado, mas gostaria que a senhoria não comentasse nada com ela, sobre a minha pessoa, certo?
-Claro que não!
Aqueles momentos angustiavam-o cada segundo que se passavam parecia uma eternidade. No final da tarde, ela entrou na sala, entregou o recibo do convênio e aguardou os exames. Estava claramente nervosa, apertava os dedos com impaciência. Seu vestido era lindo, de um azul majestoso, tão encantadora. Começou a tremer, entrando na paranoia que ela poderia conhece-lo, medo tomou conta, igual ao sonho que tivera com ela. Sentiu seu coração disparar a cada minuto que passava naquela sala, e uma enorme vontade de lhe falar surgiu, quando finalmente levantou a recepcionista entregou os exames. A garota abriu o envelope e sorriu, fiquei  surpreso com aquela reação, imaginava que ficaria aflita e até choraria. Tal atitude me fez criar coragem e interrogá-la.
-Peço desculpas Srta, mas teve boas noticias pelo visto?
-É sim, imaginei uma besteira, mas foi tudo imaginação somente. Parece que o conheço de algum lugar?
-Estive aqui a dois dias atras, talvez a  Sra. tenha me visto, não sei...
-Engraçado, ontem sonhei com um rapaz e ele era parecido com o Sr. e o mais engraçado é que no sonho, ele estava num lugar parecido como este e confessava estar esperando por mim. E o Sr. não passa de um desconhecido.
-Talvez o destino tenha nos colocado na hora certa no mesmo lugar, por acreditar que poderia acontecer algo entre nós, é que estou aqui.
-Não compreendo...

-Desde que a vi naquele dia  tive vontade de lhe falar, porém não consegui. Resolvi que lhe esperaria, pois tudo que eu tenho feito nesses dois dias era pensar muito em você.
Ficou admirada com minha declaração, pensei por um certo momento que iria embora sem me dar a mínima atenção, entretanto, sentou-se calmamente na poltrona. Explicou-me pacientemente que estava grávida, que era uma gravidez esperada, pois era o que mais queria nesse mundo. Alguns anos atrás tinham lhe dito que jamais poderia ter filhos, mas nunca acreditou nisso e tinha certeza, a prova estava ali entre os seus dedos. Nem sei mesmo porque estou a lhe falar essas coisas. Também acho a sua atitude um tanto absurda.
-O que é absurdo? O desejo, a vontade de te conhecer melhor?
-O Sr. não acha que esta indo longe demais? Nem mesmo sei o seu nome, e...
-Me chamo Piter e sei que se chama Laura.
Com um ar de admiração estampado no rosto, olhava-me com certa ternura, e eu procurava sentir cada detalhe do meu corpo. Sorriu novamente, e pediu que a acompanhasse. Senti-me aliviado e o medo de ser repudiado desapareceu, uma grande alegria encheu meu coração, sabia que a teria de alguma forma e para sempre.
O tempo passou e ficamos juntos. Teve seu filho Roberto, Beto como era carinhosamente chamado. Eu consegui um emprego, também fiz faculdade e quando finalmente Laura engravidou novamente, ficamos muito felizes, mas durou muito pouco tempo, tanto  ela quanto o bebe não resistiram ao parto.  No inicio todo o processo de perda foi uma barra, não conseguia superar, e a vida  se transformou em uma enorme tristeza. O que ainda me trazia um pouco de felicidade era a convivência com Beto, aquele garoto era a lembrança viva de Laura e do nosso amor. Naquela época meus pais me deram muito apoio, e pude constatar o quanto eram amigos e me amavam, até Junior demonstrava certo carinho e sempre que podia passava os finais de semana comigo e Beto, dando-me ânimo para sair do caos que a minha vida se transformou.
Passaram-se alguns anos, já formado e trabalhando para um conceituado jornal, vivia uma rotina com certa tranqüilidade. Meu hobbe predileto era escrever poesias e ficar horas e horas a frente do computador, brincando com as palavras. Vez por outra uma enorme saudade invadia minha alma, e eu a sentia em meus braços, e todos os momentos que vivemos juntos vinham na lembrança. Nunca mais consegui amar outra mulher, da mesma forma como amei aquela moça de cabelos lisos, busquei em outros corpos a mesma emoção, mas nunca encontrei
Hoje, apesar de todos os sofrimentos impostos pela vida, sou um homem que tenta vencer os obstáculos, que sabe da existência do amor, e como ele é importante na vida de cada um de nós.







CERTEZA DE AMAR

Duas 2h30m, o ônibus corria. Na estrada não se via nada, o frio da madrugada predominava e eu continuava a ler o livro, apesar da pouca luminosidade  no ambiente. A janela aberta trazia a brisa suave que envolvia meu rosto, dando-me uma sensação de leveza. Fechando o livro, visualizei no meu mundo interior a minha cidade. Lembranças eclodiam em minha mente, fazendo-me sorrir. Tinha sido feliz, nossos momentos de amor, nosso primeiro encontro, nossas mãos apertadas uma contra a outra, nosso primeiro beijo. E uma emoção enorme novamente tomou conta de mim, uma emoção que me dava a certeza do meu amor, trazido dentro do peito, que me perturbava e me enloquecia de prazer. Voltava aquela cidade porque ainda amava. O livro caiu de minhas mãos, despertando-me dos meus devaneios, em seguida apaguei a pequena luz que iluminava o ambiente, deixando a claridade da madrugada  invadir o minúsculo lugar onde estava. O sono intranqüilo tomou conta de meu corpo, sonhos que tentam tomar forma, mas o pensamento estava lá, naquela cidade, junto a quem amava. Tornaria vê-lo, senti-lo próximo, poderia expressar tudo que sentia. Assim, dormir profundamente.

Senhorita, acorde, temos meia hora para o café.
Hã...Hã...
O rapaz ao lado acordava-me. Eram 07:30 hrs, e não tinha a menor vontade de levantar-me, mas atonitamente desci do ônibus, ainda meia sonolenta. Fui imediatamente ao toalhete, lavei o rosto encarando-me firmemente. No restaurante tomei um café simples. Pensamentos  de minha cidade tomavam conta de mim. Suas ruas velhas, casarões do século XIX, contrastando com o arrojo das construções modernas. Velhos sobrados, palacetes e mirantes, casas de meia-morada como o povo antigo costumava dizer, de uma simplicidade e beleza mil, e seus nomes eram de grandiosos que marcaram  todo o seu passado, como Gonçalves Dias, Arthur Azevedo, Graça Aranha, Aluisio de Azevedo, Humberto de Campos, João Lisboa, Raimundo Corrêa, Henrique Leal, Sotero Reis, Gomes Souza, Coelho Neto e outros.  A proximidade com minha cidade acelera os batimentos do meu coração e diminuía as saudades sentidas. Havia perguntado minutos antes ao motorista o horário que chegaríamos a São Luís, e ele afirmou que daqui  a  aproximadamente três horas.
 Aquelas ultimas horas no ônibus, pareciam intermináveis, assim retornei a leitura do livro, imaginando porém se ele estaria na rodoviária esperando. Mas algo me dizia que era impossível, a não ser que meu pai ou minha avó tivesse telefonado avisando. O ônibus entrou na cidade, uma emoção nova tomou conta de mim e sem querer meus olhos choraram. Era um fato inédito, nunca havia chorado por chegar a um lugar. Ao entrar na rodoviária meus olhos percorreram cada canto, procurando alguém, alguém tão intimo, tão amado, mas não havia ninguém, e uma tristeza invadiu minha alma.
Lá estava eu novamente na velha São Luís seus sobrados inconfundíveis marcado na ilha toda, nas suas sacadas de ferro, nos seus portais de cantaria, suas janelas em guilhotina, os braços de ferro dos velhos lampiões, era como me transportasse ao remoto passado daquelas ruas. Quinze minutos depois estava na porta da casa de minha avó. O grito da pequenina Rosaline anunciava a minha chegada.
Oi, Marrie... Que surpresa, você por aqui?
 - Tô de férias... Juliana. Cadê vovó?   
Estar lá na cozinha ... Você parece que engordou! Como vai o pessoal, lá de Sampa?
Tudo bem Juli...
 A casa da vovó continuava a mesma, todos pareciam os mesmos, como se o tempo não tivesse passado por lá. Subi até meu quarto, da janela avistava os telhados dos casarões e a Praia Grande, parte do centro histórico, a revelação do esplendor português. Respirei fundo e aquele ar encheu meus pulmões, senti certa satisfação de ter voltado aquela cidade. Tomei um bom banho, e desci para comer alguma coisa.
-  Como você estar mudada, parece que engordou?
-   Puxa vó, só impressão, estou com o mesmo peso.
-   E Luiz, já conseguiu arrumar emprego?
-   O pai sai todos os dias, mas ainda não consegui, ele anda muito preocupado, porque a reserva que ele tinha no banco, parece que estar acabando.
Só espero que ele consiga. Se por acaso nada der certo, acho bom ele voltar para cá, aqui ele têm amigos que poderão ajudar.
-    E você prima já estar trabalhado?
-    Sim, mas meu grande sonho é montar um consultório. Para isso preciso apenas terminar o curso de extensão.
-    Aqui no Brasil, a terapia familiar, não tem muito valor, acho que vai ser muito difícil, realizar seu sonho.
-   Não creio  Leila, a família  anda muito desarticulada, com muita carência de apoio, as pessoas perderam o discurso do dialogo, como também o espirito familiar que anda desaparecendo,  persistindo assim um enorme vazio existencial. Há bloqueios na sociedade e um enorme sentimento individualização que levará certamente famílias aos divãs. Será necessário repensar, para que não sejamos invadidos pelo caos sociais.
Belo discurso, temos aqui uma pessoa com bagagem intelectual e que entende das coisas. Vá em frente prima, se é para melhorar  e transformar o mundo, te dou o maior apoio.
-  Eu sei que vou realizar meu sonho...
O almoço estava delicioso, continuávamos a conversar sobre a cidade e seu crescimento,  as novidades dos amigos e parentes, as expectativas e mudanças econômicas  com a implantação da Alumar, e como não poderíamos deixar de comentar as    ultimas fofocas. Depois do almoço resolvi esticar o corpo e tirar uma boa soneca. Acordei com  os últimos raios de sol  a despedir-se do dia. Fui até a janela contemplar aquele crepúsculo inacreditável e irresistivelmente maravilhoso. Naquele horário era comum ver alguns pombos e pássaros a sobrevoarem os telhados dos antigos casarões,  dando mágica ao momento de tão rara beleza.
Marrie, desça logo, o jantar estar na mesa a vovó fez aquela sopa que você adora.
Tá bem, Leila já estou indo...
 Vovó sabia  que eu adoro sopa de creme de cebola, e certamente era a minha sopa predileta que estava na mesa. Toda vez que ia a São Luís, todos os meus desejos eram satisfeitos, e vovó demonstrava tanto carinho, e eu a amava muito, é bem verdade que quase não dizia isso a ela, tudo por causa de minha timidez.
Era comum que nos reunissem para almoçar e jantar, vovó fazia questão, era o momento de encontro familiar e de oração. E depois do jantar, a pausa para o cafezinho com um bom bate-papo. Naquele momento, uma voz familiar preenche o ambiente, fazendo com que meu coração apertasse e disparasse continuamente.  
-Oi, pessoal... Soube que havias chegado Marrie, e vim te ver...
-É, cheguei pela manhã.
Pensei que nunca mais ia te ver, depois de tudo que aconteceu...
Jamais deixaria de vir à minha cidade, vê minha avó e meus amigos e isso inclui a ti...
 Discretamente, Leila deixou a saleta e ficamos à sós.
-Marrie, nem sei como começar... Hoje eu tenho certeza que te amo, que o que aconteceu, foi uma atração e um tesão pela Sandra. Não te procurei por medo de não me quereres  mais.
Ali na sala nos beijamos ardentemente. Aquela boca quente sobre a minha, o seu abraço forte a apertar o meu corpo. Era o sonho, o meu amor era meu novamente.
Pelo que estou vendo, vocês voltaram as boas?
Eu a amo D. Amélia, e não vou mais perdê-la, nunca mais...
Sim vovó, vamos ficar juntos e para sempre.
Tudo aconteceu a dois anos atrás, quando Sandra, uma moça carioca, chegou na nossa cidade, com um jeito atirado e provocador, dispensando todas as atenções masculinas. Leandro, sempre foi um rapaz tímido, reservado de poucos amigos e de uma sinceridade incrível. Entretanto, ela com sua maneira de ser, diferente de todas as garotas  da cidade, envolveu o Leo, e ele acreditou estar apaixonado, como é uma pessoa integra, terminou o nosso namoro, o que me deixou totalmente infeliz, fato que me levou de volta a São Paulo o mais rápido possível, para viver definitivamente com meus pais. Assim, nunca mais soube noticias dele, a não ser quando minha prima escrevia ou ligava. Sabia que ele estava feliz ao lado da Sandra. Um dia, porém, recebi uma carta da Sandra, onde dizia o seguinte: “Todos os dias quando amanhece, e eu vejo o mar calmo ao longe, alguns pássaros, ou vez por outra o silêncio a invadir o meu quarto, me levava a uma reflexão constante de minha vida, que me preocupava a todo momento, continuava a viver a vida mas  o que fiz me incomodava a cada dia que  passava. Hoje tive coragem de lhe escrever e dizer que não amo Leandro, posso até confessar que o tirei de você propositadamente, pois parecia que tinhas raiva de mim, e nunca me deu a atenção devida, mas convívio com esse remorso dia após dia, o que me deixa imensamente vazia e nada muda essa realidade. Tenho medo de confessar  tudo isso a ele, não sei se me ama, parece apenas gostar de mim. Queria mudar essa situação, poder falar tudo isso a ele, mas não tenho coragem, e não sei como. Talvez isso tudo tenha acontecido por ter sido criada de forma errada, com valores tão diferentes, com tudo na mão e hoje não consigo superar. Peço a você que me desculpe, e se o amas, faça alguma coisa, tome alguma atitude, pois sinceramente eu não sei o que fazer...”
Diante dessa  atitude e dessa revelação, senti certo alivio e felicidade, como se a alegria voltasse a minha vida. Respondi sua carta, apenas para esclarecer que só ela poderia contar a verdade a Leo, e que mesmo que eu quisesse seria suspeita para isso. Ele, entretanto, não mandou avisar e nem mesmo me escreveu. Soube que haviam terminado por minha prima, no mês passado quando havia me ligado.
Ele agora estava na minha frente, explicando, dizendo que me amava. O meu Leo, finalmente seriamos felizes, naquele lugar , na nossa cidade, o amor que sentia por ele  era  tudo na minha vida, finalmente toda  aquela viagem tinha um sentido. 
Meus sonhos profissionais e afetivos caminhariam juntos, lado a lado, me dando a certeza de que vale a pena acreditar na vida e no amor!