sexta-feira, 5 de julho de 2013

A MENINA DO CABELO VERMELHO

Era outono, na ruas podia se ver as folhas ao chão de algumas árvores, o vento forte batia sobre o corpo trepido de Sanza, esta caminhava a esmo, buscava entender sua vida e como tinha desmoronado. Precisava ser forte e suportar a dor de não poder mais contar com alguém a quem idealizará e lhe parecia corresponder ao seus sentimentos, onde  ela dia  após dia cultivou essa sensação de carinho, de estima e de estar completamente extasiada pelo outro. Sabia que era perigoso, e parte de sua razão a alertasse sobre todos os riscos mas ela não queria saber e insistia arriscar a sentir toda emoção, flutuando sobre si, toda a plenitude de ser ela mesma sem medos e de poder compartilhar isso com ele, e isso fez com que a decepção fosse maior, pois acreditara em todas as palavras que foram ditas e se entregou sem nenhum medo. Agora estava ali, caminhando sem sentido, procurando uma razão plausível para  aquela atitude, seria tão mais fácil se ele dissesse a verdade, assim teria a chance de escolher e assumir seus riscos, mas não ele preferiu mentir, enganar.
Perante a natureza tão linda podia refletir e pedir força em si mesmo para continuar acreditando no amor entre as pessoas e deixar que seu desejo de amor incondicional não a abandonasse. Para muitos que não percebem o sentido maior de um relacionamento puro, afetuoso, sem intrigas, brigas e mentiras, talvez venha achar que essa decepção não é importante,.. mas não sabem a dimensão que a pessoa se expõe ao vivenciar tudo isso.
Mas ali, sobre o jardins da natureza e com pés descalços  na terra, percebeu que um novo caminho abria para si. Não imaginava o quanto aqueles momentos a esmo a levaria a uma experiência unica e fantástica quase que inacreditável, talvez sua fragilidade ou mesmo o seu anseio de não se perder na decepção a levasse aquela situação.
De repente uma luz ofuscou a sua visão, era forte e penetrante e magicamente a sua frente surge um ser alado, corpo de homem,  musculoso e de suas costas brotavam asas. A principio pensara que estava tendo uma visão alucinatória que sua mente estava a produzir, mas aos poucos foi percebendo que tudo estava acontecendo a sua volta era pura realidade. Trocaram olhares demorados, aqueles olhos azuis penetravam com um poder sedutor sobre os seus, que era de uma cor amendoada e limpida. Seu corpo fragil e débil começava então a tremer ante a sensação de proximidade daquela entidade fantástica, causando-lhe calafrios. Não sabe precisar quantos minutos ou segundo se passaram até sentir o ar gélido do ser ante a sua respiração e sua proximidade. Estava  em êxtase, ao mesmo tempo que insegura, não sabe quanto tempo resistiu aquele abraço, um abraço morno que deixou seu coração a pulsar e a ditar um ritmo cardíaco alucinado sem nenhum compasso a ser controlado por si. A voz que ouviu a seguir caminhou pelos seus tímpanos como uma suave melodia e por minutos a fazia esquecer toda sua vida de decepção e de como chegara ate aquele jardim.
-Sanza querida, ouvi seu chamado e aqui estou
- Quem é você? Não chamei ninguém, nem esbocei se quer uma palavra desde que cheguei aqui.
- Não preciso de palavras para ouvir seu coração, e apressei-me a vir pois sinto que precisava saber de minha existência e de que as forças do mal poderiam  direciona-la a outro fim.
Naquele exato momento seu corpo gélido e morno, uma mistura que não saberia definir abraçou-me suavemente e como se estivesse flutuando me deixei conduzir. Não saberia precisar para onde estávamos indo ou o que iria acontecer no momento seguinte, apenas deixei-me levar  a sentir uma sensação penetrante de paz e benevolência irradiada por todo meu corpo.


Durante todo o tempo que não sei precisar o quanto durou, se foi minutos ou horas aquele ser de aparência e magnanimidade jamais vista por mim, deu a mim uma energia que nunca pudera sonhar existir. Com simples gestos e como se penetrasse em minha mente mostrou toda minha trajetória de vida e como eu havia mudado os caminhos a que tinha decidido seguir um dia e que na realidade era o propósito de minha existência. Mostrou que antes de ser : ser humano e ter decidido ate mesmo o corpo ao qual iria habitar era de uma possuidora de uma energia cintilante e harmoniosa, que por livre arbítrio tinha deixado o estado de lucidez e satisfação para renascer na terra como humana, deixando todos os laços no esquecimento ao nascer.
 Agora sabia o que havia deixado para traz, e que minha escolha acarretou sentimentos de perdas. Ele era prova mais real que tinha, ele era toda a emanação do que eu havia desejado e que na verdade toda aquela escolha não havia resultado em nada porque ELE era o meu ideal. Mas porque raio de provação eu escolhi e me meti nessa terra se já havia alcançado o ponto maior da existência, tinha me tornado uma como ele? Toda minha amargura, agora  fazia sentido, todo meu desencontro comigo mesmo, um propósito inacabado que queria provar agora não tinha mais sentido. Eu na verdade desejava era voltar a minha essência e não sabia como fazer, imaginava mil desculpas e propósitos sem sentido para continuar. Precisava dizer a ELE que era hora de voltar, que aquela garota de cabelos vermelhos ali já tinha esquecido como é ser angelical e se tornará amarga e até vil, mas não precisaria de palavras para  afirmar isso, porque no fundo sabia que ele já conhecia tudo o que estava imaginando, e o que desejava afinal ele era parte de mim.