segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

SENSATEZ

Meio dia, acabara de sair do trabalho e corria feito uma desvairada para tomar o ônibus que tinha horário e me levaria ao outro serviço. Uma loucura essa vida estressada para a sobrevivência. Confesso que muitas vezes sentia certo cansaço com o vai e vem do cotidiano, por outro lado, gostava de ter essa atividade de realizar-me profissionalmente, valia a pena, não pela grana em si, mas pelo oficio da profissão.
Conheci um certo paciente naquele dia, era negro, alto, aspecto limpo mas de uma introspecção diferenciada que me chamou atenção. Na minha oficina havia conversado com todos sobre a sensatez e como ela atuava no seu cotidiano, solicitei que verbalizassem o que imaginavam sobre isso. Para quem não sabe, estou me referindo a pessoas portadoras de doenças mentais a qual debruço-me em estudar e lidar no meu cotidiano profissional. Foi então que alguém sugeriu que desenhassem sentimentos que assolavam a mente naquele breve instante acerca do que falávamos.
Estava ansiosa para ver o desenho dele, aquele sujeito havia me chamado atenção pela maneira como comportava-se e que vez por outra falava de seus sentimentos e medos. Ficava imaginado o que levava as pessoas a perderem sua razão, se este processo não estar atrelado a perda da sensatez na sua vida estrutural, ou mesmo a não aceitação racional da sua vida, das escolhas que fez.
O desenho do paciente X em questão expressava a natureza primitiva dele próprio, dos seus medos e a forma agressiva que encara sua vida cotidiana, o seu instinto aflorado, numa perfeição para um desenho feito a mão livre em 5 a 10 min. A expressão, os traços mostravam a qualidade de um artista preso pela sua doença, um artista com medo de si. Ele foi o único que apresentou dois desenhos, no segundo percebia-se claramente a expansão da mente, o imaginário, o livre, dando asa a fantasia construída em algo que não existe, mas que pulsa em seus sonhos.
Na mesa redonda os outros pacientes admiravam o desenho dele e em seus delírios descreviam o que imaginavam, a cada palavra eu fascinada ouvia atentamente, procurando identificar formas de traze-los ao real, ao palpável das suas vidas, valorizando-os.
Fim de tarde, Sr. X levantou-se agradeceu e revelou que sempre desenhara o que sentia e essa compulsão era seu refúgio quando hora por outra ouvia aquelas vozes que o perturbavam levando-o muitas vezes a agressão do próprio corpo. Fiquei observando ir embora...sem poder dizer mais nenhuma palavra.

Desenho 1 do paciente X

Desenho 2 do paciente X

Um comentário:

  1. Muito intessante o desenho, uma vez tive a oportunidade de ver o desenho de uma pessoa com problemas mentais também, fiquei admirado com a capacidade de desenhar. O desenho eram castelos, lindos e perfeitos igual aqueles de filmes da Inglaterra, pareciam copias mas nao eram e foram feitos a mão mesmo. Tentei ficar com alguns desenhos mas depois acabei jogando fora.

    ResponderExcluir