sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

A ESPERA


As estrelas brilhavam no céu escuro e no silêncio da noite meu corpo débil gelava ante o frio da madrugada. Não conseguia dormir, era comum a insônia naquela época de verão, e o consciente forçava minha mente à meditação e recordações na solidão do meu quarto. Ao longe podia-se ouvir o murmúrio das ondas do mar debatendo-se nas rochas. A noite, o coração anima os sentidos e geralmente nos sentimos inclinados a recordações, porém o corpo agonizava por um sono perfeito, mas a mente teimava em emitir imagens sem significação real, levando a um certo medo. Naquela hora, alguns homens rudes deviam estar em alto mar, desafiando a vida e o mar bravio para levar as suas famílias algo que comer e eu inquieto não conseguia dormir. Resolvi então, tomar um sonífero e logo o sono me venceu. Sonhei naturalmente, vivenciando algo tão real, naquelas imagens: estava a andar por um bosque imenso, um grupo de guerrilheiro conversavam, quando perceberam-me e logo começaram a perseguir-me, eu fugia, tinha medo que me matassem, em determinado momento percorri túneis estranhos e intermináveis, caindo num enorme buraco sem fim, acordando naquele exato momento, sentindo todo o meu corpo suado e cansado, o dia estava amanhecendo.
Fiquei parado na cama, pensativo, por alguns segundos, logo espriguicei-me, tomei um banho, vesti uma roupa e deliciei-me com um bom café, saindo em seguida. Atravessei a rua, sentindo certo frio, ainda era cedo. Um ônibus se aproximava, subi e sentei-me a esmo, estava parcialmente vazio. Percebi que as pessoas possuíam um semblante cansado e de evidente solidão. Da janela observava a  paisagem,  o mar era tão lindo e constante do lado de fora . Lembranças do passado atormentavam-me, amava Licia, sua maneira de ser, de falar sem medir as conseqüências, seu jeito meigo, de voz terna, sensível, com todos os predicativos que animam os apaixonados. Sorrir ante a lembrança daquela mulher. As ondas no mar deliciosamente chegava a areia como se fossem pétalas caídas em um jardim. Senti uma enorme vontade de descer do ônibus e tocar os pés naquela areia, e assim o fiz. Aquele cenário matinal contagiava minha alma, inclinando-me a poesia e ao relaxamento espiritual, a uma melancolia  que só é acometida pelos que encarnam o amor, num romantismo sedutor, evidenciando o quanto minha energia feminina era presente e forte. Como uma miragem Licia apareceu na praia, minha mente desgovernadamente comandava minha vontade e repentinamente corri ao encontro daquele vulto, tocando seu braço com força, surpreentemente aquela pessoa que via o rosto de Licia, era nada mais nada menos que uma velha amiga do ginásio, que assustou-se com a minha atitude, não compreendendo porque eu a segurava com tanta força. Pedi, imediatamente desculpas, que ela gentilmente concedeu. Deixei-a um tanto pensativa, e em seguida deitei meu corpo ofegante naquela areia, sentido o prazer de estar naquele lugar , aquela hora. Por uns momentos fiquei meio zonzo, e meus pensamentos novamente levaram-me a Licia, minha Licia. E logo versos poéticos surgem em minha lembrança: ...
”Cada esquina de qualquer cidade...
Te vejo
Aonde quer que eu vá
Permanentemente nos meus olhos tu apareces
Como se fosse durar toda uma eternidade
Em cada bar que eu sente,
Onde eu peça bebida, logo sinto o teu cheiro
Na minha casa, no meu quarto
Lendo um livro ou a meditar
Quando corro, quando choro
Quando sorrio
É tu que percebo na minha mente
Ou até mesmo quando as estrelas cintilam
Longe ao céu
Ou quando a lua desponta mágica
No enorme  horizonte
É tu que invade meus pensamentos
E me retém...”
Desperto daquele transe,  volto a caminhar pela praia, entristecido com a realidade. Mas tinha que continuar a vida, voltar ao trabalho. Descobriu que estava perto do escritório e poderia ir caminhando até lá. Seu escritório, uma pequena sala, um tanto úmida, alguns papéis sobre a mesa, junto ao retrato de Licia, podia ainda ver a carta de despedida. Senti certa angustia e naquele momento não pude controlar uma lágrima rolada. Ela o tinha abandonado, dissera que estava apaixonada por outro e que nunca o amará, que não teve culpa por sentir-se atraída por Rogério, assim que o viu, pedia para que ele entendesse e não guardasse mágoas. Já  havia passado 01 mês, e a presença dela ainda era forte na sua vida. Não conseguia trabalhar adequadamente, e a idéia de férias a cada dia lhe perseguia. Sentou-se na poltrona, fechou os olhos e a mente o levou a um lugar cheio de eucaliptos, onde o vento balançava seus galhos e o sol declinava-se naquele vale. Alguns metros e lá estava um córrego cristalino, onde podia-se ver  peixes a nadar. Ao redor da mata de eucaliptos exalava um aroma agradável, e uma vontade de viver penetrou em sua alma. Despertou daquela magia com o som do telefone. Um cliente, lembrava-lhe o compromisso, daqui a algumas horas teria um almoço para fechar mais uma venda. Trabalhava com imóveis, montara um pequeno escritório e este ultimamente lhe rendia uns bons dividendos, nunca imaginara que em menos de dois anos pudesse comprar o seu próprio apartamento, e logo compraria um carro. Chegou aquele cidade aos 18 anos com a idéia fixa de vencer, de fazer valer todos os esforços que seus pais haviam depositado em si, e que de alguma forma precisava retribui. Terminou o 2º grau, e fez o vestibular para Direito, não conseguindo aprovação, mesmo assim não desistiu, fez cursos de informática, começou a procurar emprego e estudava em casa até tarde da noite. Tinha em mente Ter nível superior, precisava mostrar a seu pai, sentia prazer em dar certo orgulho aquela criaturas que tanto se sacrificaram para que estudasse em bons colégios e lhe dado uma educação adequada. As vezes  questionava  as  metas que havia traçado para si, e se este propósito lhe levaria realmente a algum lugar. Lembrou-se então, de um artigo lido certa feita,  que permite certa reflexão:
... Há alguns anos, nas Olimpíadas Especiais de Seattle,  nove   participantes, todos com deficiência mental e física, alinharam-se para a largada da corrida dos 100 metros rasos. Ao sinal, todos partiram, não exatamente em disparada, mas com vontade de terminar a corrida e ganhar. Todos, com exceção de um garoto, que tropeçou no asfalto caiu rolando e começou a chorar. Os outros  oito ouviram o choro. Diminuíram o passo e olharam para trás. Então eles viram e voltaram. Todos eles. Uma das meninas, com Sindrome de Down, ajoelhou, deu um beijo no garoto e disse: - “Pronto vai sarar”.
E os nove competidores deram os braços e andaram juntos até a linha de chegada. O estádio inteiro levantou e os aplausos duraram muitos minutos. O que importa nesta vida é mais do que ganhar sozinho. O que importa nesta vida é ajudar os outros a vencer mesmo que isso signifique diminuir o passo e mudar de curso.
Agora, novamente só, entre os papeis da  mesa, e com um enorme vontade de fugir das experiências profissionais, arejar, descobrir novos lugares, conhecer novas pessoas. Era isso que iria fazer, após o almoço, assim que terminasse de fechar mais uma venda, iria para casa arrumaria a mochila, levaria pouca roupa e descobriria esse Brasilzão, deixaria para escolher a cidade no aeroporto.        
 Um mês havia se passado, e Ouro Preto era uma cidade muito linda, lembrava o século passado, uma magica maneira de viver que deixava deslumbrado. Amanhã pegaria um ônibus para BH, desde que chegara no estado de Minas, sentia-se atraído por conhecer essa cidade. A noite, como era seu costume, foi ao bar tomar um drinque antes do jantar, naquela noite a lua cheia encantava as ruas e alguns violeiros tocavam  uma música muito romântica. Observava a lua e as estrelas, quando uma voz muito doce encantou o lugar, chamando sua atenção.
-         Sr. Leocadio, por favor o drinque de sempre.
-         Sim, senhorita Laura. Como foi a viagem? E BH, continua movimentada?
-         Tudo normal, a faculdade é que me cansa muito, ainda bem que esse feriado vai dar para relaxar um pouco e nossa cidade tem muita paz.
Aquela voz daquela linda mulher, fez com que meu coração disparasse, enfeitiçando  minha  alma. Cresceu em mim uma  enorme vontade de tocá-la e misteriosamente fui  conduzido até o bar. Sabia  que de alguma maneira procuraria tentar um dialogo, e teria que vencer a timidez. Sua forma sensual, me impulsionavam a não desistir e ir em frente. Pela primeira vez, depois de alguns meses da separação senti certa atração por alguém, era a primeira vez que meu coração disparava ante a presença de uma mulher que não fosse a Licia. Agora, tinha certeza, que poderia ser feliz novamente.

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