quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O ÁPICE DA DECEPÇÃO

Final de tarde, Luciana ainda não sabia bem para onde ir, se voltava para casa ou se iria ao barzinho encontrar com os amigos. Era Sexta-feira, amanhã sabia que poderia acordar mais tarde, e teria todo o dia apenas para si. Pensava estranhamente em seu filho, estava  hoje com 21 anos, as vezes ficava horas pensando nele, fazia dois anos que não o via. Imaginava inúmeras vezes um encontro, tinha tantas coisas para falar, uma vida inteira, mas o que mais desejava era pedir-lhe desculpas, sim desculpas, pois culpava-se por não ter lutado suficientemente por ele na epoca em que tudo aconteceu, apesar de sua pouca idade, hoje analisando friamente, acredita que na epoca foi muito infantil e covarde, o medo enorme de enfrentar vida e as responsabilidades, de dar ao outro ser o essencial que necessitaria, de não poder saber e ter como cria-lo talvez a tenha levado a não lutar como deveria.
Mas durante todos esses anos a dor estava sempre presente e desejava muito poder ter a oportunidade de contar toda sua trajetória de vida durante esses 16 anos em que viveram separados.

O ônibus subia a ladeira da montanha, as pessoas que residiam naquela rua, de alguma forma despertavam em si um sentimento de amargura, pobreza e piedade. Aquelas mulheres vendiam ainda o seu corpo para poder sobreviver. Ao pé da ladeira pode ver o por do sol, o mar ainda azul denunciava que a vida vale a pena ser vivida, com todos os contrapesos que ocorrem, e na realidade eram formas de burilar a alma para a perfeição. Considerava-se uma pessoa batalhadora profissionalmente, alias adorava sua profissão, era uma pessoa disciplinada, tinha objetivos a alcançar propostos desde a sua adolescência e iria cumpri-los, o que as vezes a deixava impressionada era como tudo na sua vida aconteceu de uma certa forma como havia planejado, como havia desejado. Sempre soubera que Deus inúmeras vezes ouvira seus pedidos, embora não gostasse de ocupar Deus com seus desejos, gostava mesmo era de agradecer, agradecer pela vida, pelo ar, pela natureza e até mesmo pelo sofrimento que passava, porque ele com certeza a faria crescer de alguma maneira, embora naquele momento parecesse doloroso.
Finalmente decidiu ir para casa, tomar um bom banho e depois quem sabe sair com alguns amigos, talvez desse uma esticadinha na noite, indo a uma boate. Sentia-se muita vezes só, e com saudades de sua adolescência, do tempo em que o amor parecia existir com mais freqüência, ou será que era a maturidade batendo à sua porta que insitia em afirmar que tal amor era pura caracteristica de uma sonhadora na fase da adolescencia? Nunca saberia, a verdade era que nunca mais conseguira se apaixonar por ninguém. Colocou a chave na porta e abriu. O apartamento era o mesmo, um tanto abafado por ter estado o dia todo fora e se mantia fechado, as persianas impediam que os últimos raios do sol penetrassem no ambiente, abriu quase que instintivamente as janelas, e lentamente deixou a bolsa cair sobre o sofá. No quarto tirou lentamente sua roupa, peça por peça, livrando-se daquele cheiro de suor do dia inteiro. Entrou no chuveiro, sentindo a água a deslizar sobre o seu corpo, o que a  deixou relaxada.  Uma vontade de tocar-se mais intimamente foi despertada pelas suas mãos quando as tocavam , e o desejo foi maior e ali mesmo com a água a cair  sobre sua  pele,  deixou-se  dominar  pelo  seu  sexo até  chegar  ao  orgasmo. Aqueles momentos de prazer sempre a levava ao passado, entretanto naquele dia fora diferente, de subito imaginara  alguém a quem conhecera a pouco tempo e que nunca tinha tido qualquer tipo de intimidade. Era estranho, mas sua mente mostrava a todo instante o jeito, a silhueta  daquele corpo a qual a despertava ao prazer, e fantasias surgiam desgovernadamente a deixando-se levar e gritar de prazer.
Em poucas horas lembrara que tudo acontecera em suas férias. Estava saindo de um relacionamento que a fez muito feliz durante muito tempo, mas que de repente a tinha  tirado de sintonia, as vezes acreditava que continuava amando, mas tudo era muito confuso em sua cabeça, precisava mesmo era dar um tempo, por sua vida emocional em ordem, pensar no seu trabalho, em seus objetivos  e procurar o mais que podia ser feliz, afinal era tudo o que desejava. Tinha sido muito feliz, ao lado do antigo amor, construíram muitos sonhos juntos, sabia que cada passo que dava na vida tinha seu apoio e seu carinho, não tinha medo de errar, mas tinha medo de perder todo aquele sentimento, e isso acabou acontecendo. Inúmeras foram as vezes que se culpou, que desejou não ter sentido nada, sabia que muitas vezes o havia chamado atenção, era necessário fortalecer os sentimentos, as atitudes, mas depois com o tempo os dois se acomodaram, e agora uma nova vida estava por surgir, tinha medo, mas era necessário seguir em frente, fosse aonde fosse dar. 
Vestiu uma camiseta, seu cabelo molhado caído aos ombros escorria gotas d'água, estava morrendo de fome e precisava alimentar-se. Abriu a geladeira e nada encontrou, decidiu então ligar para uma amiga, talvez se tivesse companhia iria a um restaurante comer uma boa pizza. Ligou para Márcia, mas o telefone apenas tocava, e ninguém atendia, deixou lentamente o fone no gancho, e naquele momento sentiu uma solidão terrível. Entretanto, uma duvida brotou em sua cabeça sobre o motivo da amiga não ter atendido o telefone gerando uma agonia e angustia, resolveu ir procura-la,  vestiu qualquer roupa e foi ate a casa da amiga. Logo deparou-se na frente da porta da casa da amiga sentindo certo constrangimento, mas seu impulso foi mais forte e tocou a campanhia. Parecia uma eternidade e nada aconteceu, quando percebeu a porta entreaberta, timidamente empurrou e entrou. O silencio era assustador, aparentemente não havia ninguem, a escada que dava ao quarto lhe pareceu suspeito seu coração acelerou momentaneamente, impulsivamente subiu as escadas, a porta do banheiro estava entreaberta, passo a passo foi adentrado ao recinto, percorreu o corredor e deparou-se com o quarto da amiga, abriu a macaneta e deu um enorme grito. Perplexa com a cena, lagrimas desceran sobre seu rosto, de um lado o corpo da amiga inerte em meio a uma poça de sangue e ao lado pendurado com uma corda no pescoço sem sinais de violencia o corpo do seu ex-marido.






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