terça-feira, 25 de outubro de 2011

O Sapiens e o Caos


Aqueles olhos pareciam me pedir de alguma forma ajuda, seu corpo estava estentendido ao chão, um tanto sujo, sem camisa, simplesmente jogado e seus olhos circulavam pelo salão como se tentasse se refugiar de algo inexplicavel, invisivel, vez por outra do canto de sua boca esboçava um sorriso, como se estivesse a se divertir com a sua propria situação. Encarei por diversas vezes aqueles olhos, procurava uma solução para aquela situação, uma vida miseralvemente triste, como se dependesse de mim. Entretanto sabia que por mais que eu encontrasse qualquer tipo de ajuda, ele continuaria ali, apatico, enigmatico como se nada estivesse acontecendo, sorrindo ao léu vez por outra, como se divertisse por eu estar preocupada com ele.
Era janeiro 2011, no albergue circulavam outras pessoas talvez com um pouco mais de sorte que o Josué, porque todos pareciam ter sobre si o dominio da lucidez enquanto que o rapaz de olhar profundo e sombrio não respondia inteiramente por si, era como se fosse uma marionete conduzida ao acaso por quem estivesse por perto, e ele tinha apenas 23 anos.
Segundo relato de sua mãe Josué desde 08 anos tivera uma crise convulsiva e desde então passou a ter delirios, a falar sozinho e com tendencias ao isolamento. Aos 12 anos sofreu abuso sexual por parte de rapazes na escola e nunca conheceu uma mulher, sempre fora arredio e solitario socialmente. Nessa epoca vivam numa sobrado pelas bandas do Pelourinho, lugar estranho de energia morbida, onde sentiamos ate medo quando passavamos por lá. Antes dos 12 anos ele era um garoto esperto, conversador, tudo perguntava de uma curiosidade sem fim, e há quem diga que foi por conta dessa curiosidade que se tornou o que é hoje.
Quando questionei a uma psiquiatra amiga o porque do Josue sorrir tanto quando caminhava de um lado ao outro sem nenhum destino e em meio a esta sua andança gesticulava sem parar, ela simplesmente respondeu-me, ele estava ouvindo inumeras vozes e precisa contracenar com essas vozes para que sua locura não o leve ao caos...Cá pensei: mais caos, e que caos ela ta se referindo? Josue nao tem vida, a vida como conhecemos, o que ele vive temos uma pseduo ideia, de delirios infintos, de sonhos e pesadelos horriveis, criações de uma mente funesta e desumana, que caos ainda sofrerá o Josue.
Todos os dias pensava naquele rapaz, e cada dia que o via, sentia o quanto eu era tenue e nada parecia poder fazer para ajuda-lo, a nao ser contar com minha fé de que um dia ele encontraria o caminho da lucidez e se tornaria um homem sensato, amigo como todos os rapazes de sua idade, por hora me limitava a desejar que logo esse dia chegasse.
Numa quarta-feira de muita chuva dessa que o ceu fica totalmente enegressido e de raios que podia se perceber atraves da janela de vidro, a mãe de Josue entrou na sala parecendo uma doidivana, cabelo molhado, como um pinto fugindo da chuva. Agarrou-se a mim e falou: " Dra. Josue fugiu a dois dias, ja procurei por todos os lugares, ate no IML, e nao o encontrei...me ajude Dra." Naquele momento me dei conta da nova realidade do rapaz e inerte minha mente vagou por toda a Salvador na esperança de encontra-lo. Nunca mais soubemos noticias e eu depois dos seis meses, imagino um Josue feliz, longe da sua sina insana de louco e caotico, um Josue liberto do mal do seculo: liberto da Locura!

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